Indigente

nessa rua onde os carros passam
a solidão de um indigente ganha chão
não chegou a ser gente
não chegou a colaborar com o vazio do lado de cá

e quantos corações, assistindo, não ficaram tocados
sua dor não foi assistida, sua infelicidade não foi enxergada
e quem quis ignorá-lo temia dar de cara num espelho
com o vazio dos dias iguais em vidas desiguais

alguém em algum momento tentou ser melhor
alguém tentou dar o melhor de si
e não chegou a ver muito além
mas chegou a ter paz
por um ínfimo instante
sua consciência deixou de penar
algo na vida ele começou a amar
não sabia oquê
seus olhos não mais perguntavam
e o coração não exigia saber

em um turbulhão de sonhos
alguém se sente vivo

do alto do outdoor
alguém se sente idolatrado

em um amontoado de tetos
alguém continua sozinho

escondido no chão
alguém descansa dessa própria irrelevância