O Grande Objetivo



O trabalho é um negócio que não permite o ócio
Não trabalhar dá muito trabalho
Constatar a verdade fica impossível
Pois desvendar a mentira já em muito custoso
De ser um ser perspicaz, nem sou eu ansioso invejoso
Pois meu ser inocente é suficientemente enganoso



O trabalho do cozinheiro é o alho
O trabalho do personal trainer, eu que malho
O trabalho policial é do espantalho
O trabalho político, dar migalha



Mas a gargalhada que dou me tira do sério
Seria melhor se fosse sozinho, mas rio o riso do império
Ferida fincada que fica velada, filha hegemônica de um rio de impropérios
Nossa sensibilidade política, proporcional à banalidade crítica


Ouço a crítica, ensaio a peça, dou uma fitada no roteiro
Com a ideia do espetáculo, me estranho com o que vejo
Viveria já tão bem irrefletido e sem espelho
Mas acabo de notar o quão a vida anda um tédio



Agradecimentos especiais ao Cráudio Milho e Iná Camargos

De Olhos Fechados



Assim terei você
Eternamente em frente a mim
Mesmo em memória
Ainda assim me surpreendendo

Aqui no sonho que imagino
Sinto o toque, vejo teu brilho
Ouço sussurro ao pé do ouvido
E não duvido que é verdadeiro

Tu presença, mesmo em ausência,
É a minha fortaleza
Meu socorro, minha certeza
De viver em vida incessante beleza




Duelo em Mim





Meu coração se espreme
Dá meia volta, e volta
E se interte num intermeio
Tentando esquecer a agonia
Mas não quer esquecer, nem recomeço

Coração, a mente não o anima
Tenta o ensinar, com uma cabeça dura
Mas coração não é duro
Não aceita morrer, não desiste

Mente diz que não será assim
Coração não assina,
Não há sina que o assassine
Mas a mente agoniza com tanto sentir
Dá meia volta, e volta

NUDEZ





Coisa essencial é saber estar nu, pois a nudez é sublime. É importante saber se despir, mas antes conseguir viver sem se vestir. 

O nu é belo e é sábio, é natural e deveria ser ordinário. Defender-se assim de toda banalidade que um ser possa carregar. Assumir apenas a si mesmo como parte do universo. Qualquer algo a mais tem de vir com pureza, e que não seja acessório, que venha como complemento, para diminuir a distância entre o eu e o mundo, nunca para os separar.

É no Universo que a nudez tem seu lugar. É no todo que o nu se abriga. É com o tudo que o nu se veste, e com mais nada.

Se vestir deveria significar crescer, não se encobrir ou se esconder. Se despir é se mostrar a cada crescimento, se enxergar a cada passo.

A dúvida que se veste de certezas para se conter, se defender de si, se auto amedrontar, nunca irá se reconhecer. Tudo que vier a conhecer não fará sentido em si, pois não o sente em si mesma.
A dúvida que se veste de certezas e não se admite não reconhece que não há resposta além de si mesma. O que responde a toda manifestação sua é o mundo. Não adianta olhar com outros olhos o que te circunda e está especialmente onde só você pode ver.

É preciso se despir, deixar a vida o afetar. Só assim o universo é afetuoso consigo. É justo que precise deixar-se totalmente a vista para ser completamente encontrado. Nu, para que a verdade não seja contida e nem definida; que flua entre o ser e o estar.



Não era amor

Não foi paixão

Por isso também, ao final, sem decepção

Era conveniência


.

Santa Iva

E ela é Iva. Santa, Santa Iva! Santinha da Silva. Ivana é joia sem dono, uma joia com vontade própria que ronda o mundo. Conquista olhares que não lhe conquistam, guarda os afetos em capítulo à parte, mulher de várias histórias mas sempre a mesma face. Sempre cede ao desejo alheio, como terra cativa que espera por centeio. Líquida, em metamorfose cálida, se deforma, se conforma, contornando cada inócuo vale.

O mundo está aos seus pés, por isso não se prende, traslada pelos cantos da terra, libertina e inconsequente. Fiel a si mesma, nunca se desmerece, não se enaltece, nem se desfalece. Mira o horizonte, em toda sua circularidade, e não enxerga ninguém abaixo ou acima de si. E passa o rodo! Tipo aguadeira em cultura antiga, mas intempestiva.

É uma mãe na terra com coração de mar. E é uma sede de nunca se saciar. Brisa que vai com o vento temporã. Provê com prazer todos que lhe agrada socorrer, guardando a sorte fortuita de ter sempre a oferecer. É chama que se exibe, vitimando olhares com imagens voláteis. É luz de lascivo brilho, sorriso airado, olhar lúbrico, que não ofusca, hipnotiza e alucina. É anti-rotina, adrenalina, convite impúdico a se encher de graça, ela é Ivana, a nossa Santa Iva.

Vejam

Escrito sob inspiração de Mamãe Coragem, interpretado pela Gal em 1977


Vejam as coisas como são

Vejam as pessoas como estão

Vejam a pobreza e a riqueza de um arco-íres entrecortado por tantos olhares
De deslumbramento e de ingratidão


Vem meu meu irmão
Me dê um pisão
No meu pé que está
Correndo o perigo
De estacionar
Em algum coração


Olha, olha, olha, olha a corda no pescoço
Olha, olha, olha a ilha que é filha despejada nesse foço
Alagado, ado, adolecido, envelhecendo, endo, amortecendo a morte, iz deênde
O nosso ende, adolescente apagado, mas decente, inspirado no que mente
O nosso ente que não teve chance de revolução

Aguenta aí irmão
Aguenta aí pra mim
Aguenta aí então
Aguenta, aguenta, aguenta, aguenta, aguenta, aguenta, aguenta, aguenta, aguenta aí no chão

Eu não te dou a mão
Mas me chame de irmão
Espero que aprenda algo / e me dê
[uma nova lição
Alguma nova lição/ por favor
Alguma nova lição/ de amor
Alguma nova lição/ de terror
Alguma nova lição/ com licor
com licor
com delírios etílicos / pra ver
pra ver se sou esquecido / de ti
pra ver se sou esquecido / aqui
pra acreditar que algo ainda pode ser
pode ser esquecido, pois o presente
tem me oferecido tanta coisa para esquecer

Me ajude a saber qual arco-íres é preciso esquecer
Se o que você viu
    Ou o que eu imaginei
Se o teu delírio
    Ou a minha ilusão
O que faz sentido
    O que faz sentir
O sentido contido
    Consentindo o porém
O sentimento contido
    Consentindo o desdém
O pensamento retido
    Conservando o crer
O mAndamento do mundo
    Condicionando o ser

  

[Título da postagem]

Esta é uma postagem sem título e sem conteúdo
Melhor dizendo, este é um rascunho
Esquecido, não sei se a meses ou a anos
E o que se fazer de uma página em branco

Como não sou amante da ignorância
Não suportaria jamais ignorá-la (olha o drama)
Rejeitá-la, deletá-la, esquecê-la
Não, pois que também é digna de memória

A página que se manteve em branco
É o homem que não virou demônio nem santo
(ouço tiros, repentinos, foram três)
E eis que qualquer coisa incide sobre uma página em branco

É a inocência, na mais calada flor da mocidade
E a idade de um artefato antigo, não descoberto
É o deserto, que ainda está por ser povoado
É todo o imaginário divino, cuja honra ao mundo não fora concedida

É a história que espera por acontecer
Espera por atores, espera por detalhes
É a expectativa em pessoa
É a gema, que não é joia, mas já pode ser rara

Toda página que espera por uma tinta
É como esta que hoje achou alguém que digita
Contemplação de infindáveis horas vagas, eis o Branco realista
Sempre haverá para cada qual uma companhia em vista

Do Sonho



Neste mundo
Onde fazemos de tudo
Muito do que fazemos
Fazemos por que sonhamos

Mesmo que a realização não seja
A concretização daquele sonho
Sem sonho
Não fazemos nem macarrão sem molho

Mesmo no dia que sonhar faz diferença
Lembramos que o sonho é difícil
Dá trabalho, é ardiloso
E se sonhar não fizesse diferença:

Faríamos com certeza algo mais fácil
Sempre há alternativa mais cômoda
Sempre podemos fugir de um embaraço
Que está no nosso âmago, por sermos humanos

Ser humano quer ter satisfação
E se não tem por culpa do outro
Vem tirar satisfação
Mas se não tem por preguiça própria...

O ser humano engasga
Quando na roda de contar o sonho do dia
Percebe que vai dormir igual uma tábua
E acorda rápido pra não se lembrar de nada

E neste mundo onde só se sonha dormindo
Sonhar acordado vira desafio
Peleja dos sonâmbulos que dão vazão a desejos
Desacordados da ordem do dia

Mesmo quando não chegamos lá
Quando o que queríamos ficou na outra esquina
Vale saber que fez diferença,
Sonhar, pois sem nem o sonho, é encarar a cada aurora

Tua própria indiferença

Em Afeto




Quero te sentir
E sei, com teu carinho
Sentimento irá vir
Consentindo o porvir

Quero te permitir
Quero deixar-te entrar
Nosso elo será pleno encontro
Sentimento consentindo estar

Aceito ser arrebatado
Pelos sentidos e pela razão
Ser levado pra onde for que seja
Pra qualquer canto dessa imensidão

Venha sem temer o êxtase
Nos guiaremos para longe do não
Que despreza o prazer da vida
Nosso êxtase será comunhão

Não espere que haja encantamento
Ou se houver, não se surpreenda
Considere apenas o que está a fluir
Considere o que não espera

Poema Sobre O Fim




pois tuas coisas irão
tudo o que conheces irá
um dia não estaremos mais na história
de uma civilização




Faça
faça memória
que também algum dia irá
esqueceremos quando carregamos glórias
por onde não mais haverá



Esse lance de tanto sonhar
Sem nunca chegar mesmo a presenciar
Sempre futurando
É por isso que sofremos tanto

Veja tudo que está acontecendo agora
É tanta coisa em todo canto que me inunda os olhos
Só que agora, se lamentando pela dor que sente
De não ter vivido o passado
Que um dia foi presente


Tudo por sempre viver um futuro incerto
Aquele que se perde em cada momento...
A tarefa da vida é escolher
Se escolhemos sofrimento
Consequência vamos ser