NUDEZ





Coisa essencial é saber estar nu, pois a nudez é sublime. É importante saber se despir, mas antes conseguir viver sem se vestir. 

O nu é belo e é sábio, é natural e deveria ser ordinário. Defender-se assim de toda banalidade que um ser possa carregar. Assumir apenas a si mesmo como parte do universo. Qualquer algo a mais tem de vir com pureza, e que não seja acessório, que venha como complemento, para diminuir a distância entre o eu e o mundo, nunca para os separar.

É no Universo que a nudez tem seu lugar. É no todo que o nu se abriga. É com o tudo que o nu se veste, e com mais nada.

Se vestir deveria significar crescer, não se encobrir ou se esconder. Se despir é se mostrar a cada crescimento, se enxergar a cada passo.

A dúvida que se veste de certezas para se conter, se defender de si, se auto amedrontar, nunca irá se reconhecer. Tudo que vier a conhecer não fará sentido em si, pois não o sente em si mesma.
A dúvida que se veste de certezas e não se admite não reconhece que não há resposta além de si mesma. O que responde a toda manifestação sua é o mundo. Não adianta olhar com outros olhos o que te circunda e está especialmente onde só você pode ver.

É preciso se despir, deixar a vida o afetar. Só assim o universo é afetuoso consigo. É justo que precise deixar-se totalmente a vista para ser completamente encontrado. Nu, para que a verdade não seja contida e nem definida; que flua entre o ser e o estar.



Não era amor

Não foi paixão

Por isso também, ao final, sem decepção

Era conveniência


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Santa Iva

E ela é Iva. Santa, Santa Iva! Santinha da Silva. Ivana é joia sem dono, uma joia com vontade própria que ronda o mundo. Conquista olhares que não lhe conquistam, guarda os afetos em capítulo à parte, mulher de várias histórias mas sempre a mesma face. Sempre cede ao desejo alheio, como terra cativa que espera por centeio. Líquida, em metamorfose cálida, se deforma, se conforma, contornando cada inócuo vale.

O mundo está aos seus pés, por isso não se prende, traslada pelos cantos da terra, libertina e inconsequente. Fiel a si mesma, nunca se desmerece, não se enaltece, nem se desfalece. Mira o horizonte, em toda sua circularidade, e não enxerga ninguém abaixo ou acima de si. E passa o rodo! Tipo aguadeira em cultura antiga, mas intempestiva.

É uma mãe na terra com coração de mar. E é uma sede de nunca se saciar. Brisa que vai com o vento temporã. Provê com prazer todos que lhe agrada socorrer, guardando a sorte fortuita de ter sempre a oferecer. É chama que se exibe, vitimando olhares com imagens voláteis. É luz de lascivo brilho, sorriso airado, olhar lúbrico, que não ofusca, hipnotiza e alucina. É anti-rotina, adrenalina, convite impúdico a se encher de graça, ela é Ivana, a nossa Santa Iva.